quinta-feira, 5 de maio de 2011

Viva Clarice!



“A datilógrafa vivia uma espécie de atordoado nimbo, entre céu e inferno. Nunca pensara em “eu sou eu”. Acho que julgava não ter direito, ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. Pensando bem: quem não é um acaso de vida? Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato. É quando entro em contato com forças interiores minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Pra que escrevo? E eu sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com meu encontro”.

A hora da Estrela - Clarice Lispector

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O goianês


Quero falar de uma pessoa que conheci. Mas antes vou falar sobre o estado de Goiás, já que minha persona descrita veio de lá.

“O estado do Goiás tem sua população composta de 83,70% Européia, 13,30% Africana e 3,0% Indígena (interessante).

Bonito o significado da palavra “Goiás”:

“O topônimo Goiás (anteriormente, Goyaz) tem origem na denominação de uma comunidade indígena. O termo original parece ter sido Guaiá, forma composta de Gua e , a qual significa "indivíduo igual", "pessoas de mesma origem".

Também descobri que o hino de Goiás foi mudado em 2001, vejam só! Bem interessante o hino do Goiás:

“Santuário da Serra Dourada
Natureza dormindo no cio
Anhangüera, malícia e magia,
Bota fogo nas águas do rio.

Vermelho, de ouro assustado,
Foge o índio na sua canoa.
Anhangüera bateia o tempo:
—Levanta, arraial Vila Boa!”


(Mais informações Wikipédia!)

Muito interessante né? Tudo isso só pra dizer que conheci um menino que veio dessas terras, desse hino trocado, dessa população mestiça e de uma terra onde, pelo que parece, são todos iguais (Gua ia).

Um menino que parece do nordeste, no sotaque e no jeito alegre de ser, mas não entendo nada de sotaques, nem de nordestinos, o que identifiquei como um “tipo nordestino de falar” deve ser especificamente o sotaque “goianês” (também não sei como se chama quem vem de lá).

Ele chegou esse ano em Florianópolis, e por aqui, nunca vi alguém tão movido de alegria, quer viver, quer conhecer, quer amar, é alguém que quer podendo. Ele vai ter tudo que quer, pq o seu querer é tão sincero, tão puro, tão bonito.

Ele tem um leve pesar de quem já passou pela solidão e de quem tem saudades, deve ter amado muito as pessoas que deixou em Goiás.

Ele tem olhos de quem quer ser amigo e que quer abraçar, e de quem quer desabafar, o seu desabafo deve ser tão primoroso, formoso e forte como um ato de coragem de alguém que dá a vida por outro. É que ele é tão alegre, e tão triste! (Ele tem a marca férrea e a força de quem carrega tristeza.)

Eu disse que ele quer ser feliz podendo, é que tá escrito na testa dele “tenho todo direito a toda a felicidade do mundo”, não há um pesar nele sobre os outros, só sobre suas histórias antigas e sobre os que deixou pra traz em sua terra natal.

Pra ele todas as pessoas são belas, pq são todas tão interessantes! É por isso que ele merece ser feliz, pq quer que os outros sejam felizes, e de preferência perto dele, com ele. Parece alguma coisa de egoísmo, mas querer que alguém queira o bem dos outros só por compaixão é dizer que algum homem é capaz de ser anjo. Ele é bom no limite que um homem pode ser, nem mais, nem menos.

Se você ver por ai um “goianês” feliz, pode ter certeza que é ele, ou é alguém que vive com ele, pq ao lado de tanta alegria não dá pra não se alegrar, não se sentir igual (Gua ia).



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cárcere Privado


Um dia matado, um dia passado trancado nessas paredes vazias que me dizem, "vai pra vida menina não nos deixe te engolir". Eu quero ser engolida quero ficar no útero, mesmo que lá fora tenha tanta coisa interessante, eu tenho medo do fora, e me deixaram escolher, pode se trancar nesse útero quadrado, mofado e barulhento que é o teu apartamento. E eu fico então aqui, é um pouco difícil sair, mas o mais difícil mesmo é ficar aqui muito tempo. Dá cansaço, os músculos atrofiam, e se começa a ter um medo de gente, e pensar que está sendo observado a qualquer passo fora daqui, vigiado por estranhos que nada querem saber de ti. Mas desses assim, como eu nesses dias, tem muitos enclausurados, pena porque podiam estar fazendo a vida, entretanto tão catalépticos se alimentando de querer permanecer no silêncio, com medo da vida, mas mais medo de sair dela, porque sabem que lá fora ela acontece, e sempre tem a esperança de acontecer.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Como se eu fosse só expectador. As vezes eu sou.



Pra onde se pode levar a vida? A minha flui e vai, e eu a acompanho, como expectador? Nem sempre. Não fazer as coisas certas pra mim talvez seja um "des-caminho".

Queria que tivesse alguém que pudesse me salvar mas não tem, agente só salva a si mesmo e tem a falsa impressão de proteção dos outros, aquele apego desesperado e dissimulado que engana agente mesmo que a solução tá nos outros.

Não sei mesmo pra onde a vida pode me levar, sei pra onde caminho, mas aonde termina esse caminho, o que tem no fim dele, eu não sei. Óbvio que não sei, sou muito expectador da vida.

De repente me vejo abraçada com alguém e não sei porque, parece isso de não ter escolha, deixa a vida me levar, loucura! Como se eu fosse só expectador. As vezes eu sou.


To numa daquelas fases "descobrindo o que vem pela frente" deliberando conscientemente ser um pouco expectador, é bom, é muito bom. Talvez ter controle, ou tentar ter, sobre o desenrolar da tua vida seja coisa de velho, de gente com espírito de velho é claro, porque nunca vi alguém tão novo e cheio de alegria como o meu pai que vai faze sessenta.

Tem uma coisa de chamar de vida "ao que vier", isso deve ter seu limite, mas vendo bem como tu sabe quem tu ainda vai conhece na tua vida, e como isso vai muda a tua forma de ver tudo que tá ao teu redor, de se ver, principalmente. As vezes algumas pessoas se enclausuram tanto na vida que acham que aquilo que vivem nunca vai mudar, mas muda sim, afinal ninguém vive pra sempre!

sábado, 19 de março de 2011

Nem só de tango se faz a vida

Hoje to só. Me abondonei, não sei a quantas anda o meu pensamento, querendo dançar um tango eletrônico com alcatatrão e mango absolut ou dormir só pra fazer nada. Muito mais o tango né? Mas hoje não tem tango, só solidão. Sei que sou eu que escolho ficar aqui trancada e isolada, mas bom me deixa me trancar e me isolar. Por que nem só de tango se faz a vida.


As vezes quero engolir o mundo, outras tantas vomitá-lo. Hoje não sei, acho que é ele que quer sair de mim. Não sei a quantas anda o meu pensamento. Só pra não ter que ficar nessa inconstância de engole vomita, vomita engole, as vezes me da saudade da monotonia dos dias passando sem sentido e desapercebidamente, atolada de coisas pra fazer sem ter tempo pra mim. Dai quando tudo tá monótono sinto falta de me divertir ou de lastimar depressões decorrentes, no fim nunca tá como eu quero. Quem sabe mais tarde role um tango eletrônico, pra mim na multidão ficar com saudade de estar só.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Tu mudasse



Tu mudasse. Hoje eu discuto contigo e não é mais a mesma coisa, tu diz que não pra mim enquanto antes dizia sim querendo dizer não. Mas como tu me quer mais que nunca, hoje tu luta por mim, antes parecia só querer me agradar, hoje tu diz "eu não penso assim Oli" e eu me calo e descubro que tu não reforça mais o meu mundo menina mimada, "tudo tem que ser como eu quero". Como tu mudou!

Brigar contigo ontem no telefone me fez lembrar como fui parar nos teus braços de novo, porque tu sabia o que queria e o que podia me dar, e não ficou choramingando por ter me perdido, foi atrás de mim mesmo com medo de poder ouvir mais "nãos". Acho que antes tu era o meu "lady boy" a la Amy Whinehouse, hoje tu é meu homem que me diz eu te amo tão amavalmente, que me chama de linda da manhã à noite, mas que não cede mais aos meus caprichos nem as minhas "certezas controladoras".

Tu sempre me dizia que queria entrar dentro da minha cabeça pra descobrir o que eu penso, hoje eu queria ver o mundo através dos teus olhos. Porque pra mim tu é um mistério ambulante, daqueles que agente não cansa nunca de tentar descobrir, e me mostra um mundo que eu não conheço. Antes eu achava que sabia o que era tá na tua pele e viver a tua vida, hoje eu sei que não sei, e não saber me faz te amar!

terça-feira, 15 de março de 2011

ônibus



Essas pessoas que passam, e vem, vão pros seus destinos enquanto eu vou pro meu. Nada pára nunca, apesar da minha solidão o mundo não é nada estático, muito menos o movimento dessa massa humana, que passa desavisada de ser observada.

As pessoas são tão interessantes no seu silêncio, com seus problemas, seus pensamentos ou tão atentas ao que se passa ao seu redor. Assim é num ônibus, o silêncio que é lei na multidão de estranhos, que só consigo mesmo, na verdade nunca estão. Estão com os pensamentos pensados, ou atentos ao que acontece ao seu redor, mas nunca com eles mesmos, agente nunca tá com agente mesmo. O homem é meio bicho acordado, na verdade acordado num estado bem letárgico.

Essas pessoas que passam, todas tem um destino como eu, vão a algum lugar fazer tal coisa e depois outra tal, mas quando agente passa por elas na nossa letargia constante, elas são só paisagem, não tem passado nem futuro, presente sim, presente despersonalizado, porque as vemos anônimas em movimento, comendo, falando, andando, rindo, sempre em movimento.

Engraçado é que essa coisa toda dinâmica tá acontecendo agora, mas toda gente sempre vive como se ainda tivesse no passado ou planejando um tal de futuro, vive oscilando nesses tempos enquanto a vida no tempo presente se desenrola, por isso eu falo em anestesia letárgica que é a vida.

Uma pessoa só na multidão é só paisagem, tu pode entrar numa letargia observadora e observar quem vem passando, julgando quem, é como é, aquele sutil pensamento que "esse aí deve ser assim", um julgamento tão superficial na nossa passagem da multidão, mas que nessa passagem se basta por si só. A multidão não tem identidade, assim como eu nela não tenho. E na vida que identidade agente tem se cada um pensa da gente o que quer? Se eu to tão distraída na minha letargia diária ou dispersa na observação de quem passa, quem posso dizer que sou, eu que nunca to comigo? Quem pode dizer quem é? De bicho letárgico acordado vou levando.